Do clássico ao novo,
um roteiro de 2 dias por Buenos Aires

Às margens de um rio que parece mar, quente no verão e gélida no inverno, Buenos Aires é o cruzamento de diferentes culturas e tipos humanos.

Muito além do gaúcho dos pampas e dos bravos vaqueiros da Patagônia, seu movimentado porto acolheu (e viu passar) cargueiros ingleses, exploradores nórdicos, imigrantes italianos e espanhóis.

Essa confluência de idiomas e gostos dotou a capital argentina de um ar notadamente cosmopolita, com refinados teatros, inúmeras livrarias e uma distinta arquitetura neoclássica.

Se quiser usar como base um hotel com localização muito conveniente, busque pelo Hotel Madero: você estará em pleno Puerto Madero, a uma caminhada de menos de 10 minutos do coração de San Telmo e a um pulo de La Boca. Vale a pena reservar um quarto com vista para as docas ou ao menos subir até o terraço, de onde se tem uma vista e tanto!

De Maradona ao tango, passando por Puerto Madero e o Microcentro.

Aqui o difícil vai ser escolher, mas se a busca for por novidades uma visita ao bairro de La Boca deve incluir a Colón Fabrica nada menos que imensos galpões que guardam cenários monumentais, vestuários, perucas e onde são criados efeitos especiais para os espetáculos do magnífico Teatro Colón, que também é uma visita imperdível. Abre de sexta-feira e domingo. Dê uma espiada na visita no vídeo abaixo:

Saindo do Colón Fábrica para a esquerda e logo você chega à Fundación Proa, uma incrível galeria de arte que guarda uma livraria imensa e uma vista maravilhosa a partir do terraço. Lá também fica o Café Proa, pretexto para provar uma fugazzetta, uma pizza com muito queijo e cebola que foi inventada em La Boca e pode ser encontrada em praticamente toda esquina – aqui no caso é uma releitura, mais gourmetizada.

A Buenos Aires de clichês pode render, no mínimo, boas fotos. Portanto, não a despreze. E, afinal, você já está em pleno Caminito. As fachadas coloridas do curto calçadão, de cerca de 150 metros, é o centro de uma colônia de artistas encravada no bairro operário. Há muita pobreza aos olhos, mas sente-se também um ar misteriosamente melancólico.

A famosa ruela virou um museu à céu aberto que, além das casas coloridas, possui artes de diferentes artistas. Um dos principais responsáveis pelo estilo do Caminito foi Benito Quinquela Martín, pintor que tem um museu dedicado à sua vida e obras de arte, o Museu Benito Quinquela Martín. Por ali também acontece diariamente a Feira de Caminito, que expõe o trabalho de artistas locais. Cuide com bolsas e sacolas e fique sabendo que qualquer clique de dançarinos de tango serão muito bem cobrados.

Dali é possível visitar o lendário estádio La Bombonera, casa do Boca Juniors e do saudoso e inigualável Maradona. Por hora a visita à claustrofóbica arena está suspensa, mas aproveite para conhecer Museo de la Pasión Boquense.

Na hora do almoço, nem saia do bairro e entre de vez no espírito portenho com uma refeição tradicional. A parrilla do bodegón rústico El Obrero já serviu famosos como o cineasta Francis Ford Coppola. Os brasileiros costumam sentir falta do sal grosso na carne argentina – se for o seu caso, corrija o tempero na mesa mesmo. Para não errar, vá de bife de chorizo e tortilla com batatas e cebola.

Devidamente refestelado, sigamos para Puerto Madero, um boa solução urbana para uma péssima obra pública. Na virada do século 19 para o 20, a Argentina era um dos maiores produtores de grãos do mundo e boa parte da produção era escoada por Buenos Aires. O aguardado porto de Eduardo Madero, inaugurado em 1897, tornou-se obsoleto em poucos anos quando confrontado a cargueiros cada vez maiores. Abandonado e decadente, hoje suas antigas docas e armazéns abrigam escritórios de multinacionais, lofts charmosos e restaurantes bacanas.

Puerto Madero abriga uma grande variedade de restaurantes, bares e museus – entre eles, o Fragata A.R.A Sarmiento, um navio que foi transformado em museu flutuante, e o Museo Fortabat, com grande acervo nacional e estrangeiro. Além disso, há o Casino Puerto Madero que funciona 24 horas em um navio ancorado.

Ah, claro, a onipresente Ponte de La Mujer, de Santiago Calatrava, os guindastes e embarcações históricas compõem a paisagem. Circular ali é uma ótima caminhada para fazer a digestão.

Dê as costas para a Ponte de la Mujer, mire em frente e siga até Escadaria Paseo del Bajo, de onde se avista ao longe a imponente Casa Rosada, de onde despacha o Presidente e de cujas sacadas eles (de Perón a Evita, de Menem aos Kirschner) lançaram famosos discursos populistas. Possui um museu de mais de 10 mil objetos históricos de todos os presidentes argentinos (por ora fechado).

Na praça onde ela se localiza, a Plaza de Mayo, um grupo de mães de desaparecidos do período da ditadura militar – que se estendeu por dois períodos entre as décadas de 1960 e 1980 – se reúne todas as quintas-feiras em comovente e desafiante manifesto. A praça é a mais antiga de Buenos Aires e foi cenário de acontecimentos políticos importantes. Em seu centro, a Pirâmide de Mayo celebra o centenário da Revolução de Maio.

Logo ao lado está a Catedral Metropolitana, com seu interior escuro e silencioso, que contém várias referências ao Papa Francisco, pontífice argentino que, antes de mudar-se para Roma, tinha a Catedral como endereço. O local também vale a visita por guardar o mausoléu do general José de San Martín, um dos maiores líderes revolucionários da América Latina.

Suba agora pela Avenida de Mayo e faça uma parada no incontornável Café Tortoni. Peça uma medialuna con queso caliente (croissant recheado com queijo derretido) ou um chocolate com churros. O lugar ainda guarda os espelhos, lustres e cristais franceses da época de sua inauguração, em 1858. É coisa pra turista? Claro! E você é o que, chavón?

Siga pela avenida apreciando joias da arquitetura dos tempos gloriosos como o Teatro Avenida e o Palácio Barolo até chegar na Plaza del Congreso. Que tal assistir o último lançamento do cinema argentino? Siga pela direita da praça até o Complejo Gaumont com suas três salas de exibição.

Quando a noite ameaçar cair, siga para a Avenida Nove de Julio, principal artéria viária da cidade, e veja as luzes iluminando a mais larga avenida da América do Sul e seu grande símbolo, o obelisco.

Agora, prepare-se que, quando a noite chegar, é hora de tango. O Café de los Angelitos é um show espetaculoso, mas para quem quiser uma experiência mais intimista, a pedida é o Bar Sur, em San Telmo.

Funciona em um bar de esquina pequeno, com salão apertado (para umas 30 pessoas, no máximo). O esquema é igual ao dos tangos mais manjados (pacote com jantar ou sem jantar), mas o roteiro é um pouco mais autêntico, com casais de bailarinos revezando-se durante a apresentação. O acompanhamento musical é perfeito: apenas um bandoneon, um celo e um pianista. Emocionante. O cultuado cineasta Wong Kar-Wai filmou algumas cenas de Happy Together ali. O ideal é sempre fazer reserva.

 

Café, antiguidades, Abaporu, helados, parrilla e boa cozinha

O café da manhã pode estar incluído na diária, mas conhecer uma cafeteria típica tem de estar nos planos: os endereços mais clássicos funcionam em imóveis antigos e contam um pouco da história da cidade. Um clássico é o El Federal, que mais parece um cenário de filme. Se for domingo, emende com um passeio pela tradicional Feira da Plaza Dorrego, mais conhecida como Feira de San Telmo, onde quase 300 barracas vendem de tudo – antiguidades, souvenires, roupas.

O passeio por San Telmo pode terminar antes do almoço, na Calle Defensa. É um pedaço repleto de antiquários, cerca de 200 lojas diversas, entre móveis, decoração, prataria. Mais recentemente surgiram diversos coletivos de moda.

De lá, pegue um táxi e siga para o Malba, o Museo de Arte Latinoamericano, a maior referência da pulsante vida cultural da capital argentina. Seu acervo é instigante: telas importantíssimas, que retratam nossa história, como o Abaporu, de Tarsila do Amaral, um autorretrato de Frida Kahlo e trabalhos de Di Cavalcanti. Perca-se entre suas galerias antes de finalizar a visita com uma taça de vinho no café charmoso no interior do museu.

Hora da encruzilhada. Uma opção é passar o resto do dia em Palermo Viejo, passeando de loja em loja, de café em café. Aqui estão ateliês interessantes e o gueto gastronômico de Palermo SoHo. Mas que tal seguir pelos clássicos?

De táxi você pode fazer o Teatro Colón ou a livraria Ateneo Grand Splendid, escolha. O teatro é um dos mais importantes mundo e vale a visita guiada. A magnífica livraria Ateneo, onde funcionou um cine teatro, é um templo da literatura, uma sucessão de prateleiras repletas de tesouros e novidades, que vão de tiras de Mafalda ao irreverente La Uruguaya, de Pedro Mairal.

O dia terminou, as pernas clamam por descanso, mas nada como celebrar uma visita por Buenos Aires com uma bela comilança. Em Palermo Viejo você pode optar pelo competente e premiado Don Julio, que serve parillas tradicionais, ou seguindo por 15 minutos pela mesma calle Guatemala para chegar ao Sudestada, que serve comida do Sudeste Asiático. A noite é uma criança? Pegue o rumo do Theloniu e comece a sonhar com uma nova viagem.

Mais dicas de Buenos Aires

Aproveite para comprar no aeroporto: reservar um tempinho para passar no freeshop do aeroporto de Ezeiza pode ser uma boa. Salva os presentinhos esquecidos e tem maquiagem, produtos de beleza, perfume e até vinhos argentinos.

Como escolher o melhor alfajor: não vale sair de Buenos Aires com a mala cheia de alfajor. A dica é perguntar aos locais qual é a sua marca favorita e se surpreenda com a variedade de respostas. Essas marcas podem ser encontradas em lojas de guloseimas e supermercados em Buenos Aires. Nossa dica? Vá de Cachafaz.

Para quem tiver um tempinho a mais: os preços não costumam ser mais os mesmos, mas vale dar uma passada nas Galerias Pacífico ver as últimas ofertas. O passeio no Delta do Tigre também costuma receber avaliações positivas, assim como o Museo de los Niños, para aqueles que viajam com crianças.

Reportagem extraída de Viagem e Turismo – 48 horas em Buenos Aires.

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